DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

25/03/10

GAITEIRO E CONSTRUTOR DE GAITAS CÉLIO PIRES EM CONSTANTIM, MIRANDA DO DOURO

 
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Célio nasceu ali, entre pauliteiros, gaiteiros, a um passo de Espanha, em pleno planalto. Aos 8 anos entrou para os Pauliteiros de Constantim, aos 10 começou a dar toques de flauta e aos 13 começou a tocar gaita sózinho. " Quando comecei era o único, a gaita de foles naquela altura era considerada um instrumento de velhos. A malta da minha idade não gostava, era gozado. Em 15, 20 anos, mudou tudo. A gaita de foles agora é um símbolo de prestígio, é como a língua mirandesa, hoje há orgulho em falar mirandês..."
Apesar de ter aprendido a tocar sózinho, Célio Pires preocupou-se em ensinar outros para ter quem tocasse consigo. "Foi uma bola de neve. Agora, há para aí uns 80 a tocar gaita de foles na zona de Miranda do Douro. Tão depressa não se corre o perigo de se perder a arte".
Aos 16 anos, Célio estava cansado de tocar em instrumentos pouco sofisticados. "O que se comprava por aí era deficiente, as pessoas preocupavam-se mais com os desenhos exteriores do que com a qualidade sonora". A princípio foi aprendendo. "Fui aperfeiçoando. Há três anos abri esta oficina com maquinaria moderna, faço gaitas de foles mas sanfonas também, só que dão muito mais trabalho". A jóia da coroa da sua oficina, em Constantim, é um torno em madeira, com cerca de 200 anos que herdou de um bisavô.
Além de tocar e construir instrumentos, Célio Pires também compõe: "O que mais gosto é de tocar temas compostos por mim, fiéis à tradição local mas feitos por mim. Há por aí muita rapaziada nova a tocar músicas feitas por mim".
Apesar de tocar com o seu próprio grupo, "Trasga", Célio está sensível ao problema da dispersão de gaiteiros, músicas e talento, um pouco por todo o planalto. "O ideal era existir um conservatório em Miranda do Douro que concentrasse o reportório, o transcrevesse para pautas. Não existindo, acabam por ser as associações de cada aldeia a ensinar".

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