DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

26/04/10

ABRIL DE 2010

 
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Quando em Torre de Moncorvo, um dos irmãos Girão, criadores do jornal local "Sabor a Ferro" e acérrimos defensores de Trás-os-Montes e de Moncorvo aconselharam-me a não perder as águas e os lameiros do Sabor por alturas de Remondes, Lagoa e Morais. Daí que tenha seguido de Carviçais, onde num dia de chuva aterrei na posta mirandesa do "Artur", tenha avançado por território semi-deserto das aldeias a sul de Mogadouro e dali tenha invertido para onde me tinham indicado. Não me arrependi. O Sabor, em Fevereiro, tem a personalidade e a correnteza de um verdadeiro rio transmontano, como mais tarde constataria junto ao Maçãs, já constatara ao calcorrear a linha do Tua ou acabei de constatar junto ao Tuela.
Chegado a Macedo de Cavaleiros, ainda sob o frio cinzento de Fevereiro, assisti à recriação de um carnaval que já foi genuíno, o de Podence e que ganhou nos últimos 20 anos uma dimensão nova, com o atrair de muitos forasteiros e de turistas à aldeia. Corria um vento gelado das bandas do Azibo que enregelava as faces desprotegidas dos de fora e afugentava os locais, já habituados ao ritual dos chocalhos atrás das moças. Por momentos, caíram farrapos de neve enquanto o céu baixava cinzento até cobrir o mundo verde à volta de uma opressiva depressão invernal que só terminou quando entrei num café aquecido, vigas em madeira e vi jarros de vinho, queijo, presunto, sob uma mesa de foliões junto a uma lareira.
Por essa altura, tinha planeado seguir pela Serra da Nogueira em direcção de Bragança mas em boa altura consultei na net o rol de associações de gaiteiros e pauliteiros de Miranda e decidi "atacar" o planalto. As bandas de Vimioso foram das mais solitárias e tristes que encontrei na viagem, território que em tempos serviu de refúgio a judeus perseguidos pela Inquisição, que mais tarde foi esvaziado pela emigração e hoje apresenta mais casas do que habitantes em muitas aldeias.

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